Um nissei tímido, são-paulino desde menino, fã de Monty Python, conseguiu uma proeza histórica: 88 anos depois de “Steamboat Willie”, o primeiro curta-metragem da Disney, Leo Matsuda é o primeiro brasileiro a dirigir um curta da maior fábrica de filmes do planeta. Com 6 minutos e 23 segundos, “Trabalho Interno” estreia no dia 5 de janeiro no Brasil, abrindo as sessões para o novíssimo longa-metragem de animação da Disney, a superprodução “Moana”.
Matsuda nasceu em São Paulo, cresceu em São José dos Campos e vive há oito anos em Los Angeles, em Venice Beach.
Admirador de Ward Kimball (1914-2012) e Chuck Jones (1912-2002), dois dos mais famosos animadores da Disney, e dos cineastas Jacques Tati e Wes Anderson, Matsuda bateu 73 concorrentes do time de animação da Disney para conseguir dirigir o filme, produzido por Sean Lurie (de “Tinker Bell e o Tesouro Perdido”).
A ideia do curta, disse Matsuda, vem do Brasil e de sua infância. “Eu adorava ler aquelas ‘Enciclopédias Britânicas’, que tinham essas explicações esquemáticas da morfologia humana. Sempre quis fazer algo que partisse do grafismo daquelas velhas enciclopédias”, contou, nos Estúdios Disney, em Los Angeles, onde trabalha. “A outra inspiração sou eu mesmo. Eu sou um cara tímido de morrer, de aspecto meio cômico, nerd, vivendo essa divisão entre o cartesianismo de minha ascendência japonesa e o trabalho com humor”.
Foi assim que surgiu a história de Paul, um burocrata de vida muito maçante. Seus pulmões, coração, cérebro e bexiga são as estrelas do filme. Em vez de animaizinhos humanizados, como é praxe, o filme dá vida ao que pulsa dentro da gente. Paul é controlado por esses órgãos, que se habituaram à sua rotina espartana –todas as suas vontades são ditadas por desejos orgânicos rígidos e castradores. “Quando minha namorada viu o personagem, ela disse: ‘Leo, você é o Paul! Sua cabeça também é quadrada'”, diverte-se o animador.
“Órgãos humanos geralmente são desagradáveis de se ver”, analisou o produtor Sean Lurie, “e Leo deu personalidade e senso de humor a eles. O mais interessante é que são personagens muito gráficos e muito simples”, disse ele, feliz da vida com o resultado. Lurie contou que Matsuda, por excesso de humildade, chegou a abrir mão de certas características de sua proposta original, mas os amigos e fãs do estúdio não permitiram que mudasse o curta-metragem. “O que ele tem de mais rico é justamente sua originalidade”, disse o produtor.
Fonte: Uol
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