Com técnica e sem monotonia, os doze anos da vida do protagonista são narrados em 165 minutos que valem a ida ao cinema
Em crítica literária há um termo (claro, em alemão) para se referir aos livros que narram a passagem da infância ou da juventude para a vida adulta — ou pelo menos a uma maturidade maior — de um personagem: o Bildungsroman. Goethe, com Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, é creditado como o criador do gênero, no fim do século 18. Uma abordagem mais ampla chama esse tipo de narrativa pela expressão em inglês coming-of-age, e é assim que essas histórias de formação são classificadas quando transpostas para a tela do cinema.
Seja em um ou outro caso, uma das principais características de livros e filmes do gênero é a predominância de protagonistas homens. Fica bem dentro da tradição, então, o título do novo filme do americano Richard Linklater, Boyhood — palavra que pode até ser traduzida simplesmente como infância, mas que deixa clara a associação ao universo masculino.
No universo dos Bildungsroman cinematográficos, nunca nada tão radical foi feito. Com a mesma paciência com que deixou os personagens de Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite envelhecerem com intervalos de nove anos entre os filmes, Linklater filmou Boyhood durante 12 anos, acompanhando o evelhecimento natural do protagonista Ellar Coltrane, que interpreta Mason Evans Jr.
O filme é longo, e funciona melhor confome o personagem envelhece (o começo pode parecer meio devagar), mas vá ao cinema sem receio: vale passar 165 minutos acompanhando o épico cotidiano de Linklater. E embora o diretor não faça uso do diálogo inteiror — técnica comum nas histórias de coming-of-age para expressar as ideias e motivações do protagonista — a boa atuação de Ellar Coltrane dá profundidade ao personagem mesmo quando ele apenas pensa sobre a vida em silêncio.
O filme tem estreia prevista para dia 23 de outubro no Brasil.
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